26.6.09

'e aqui estamos a trovar com fidalguia...'


gosto de tunas. masculinas. não tenho nada contra as outras, mas gosto de ouvir as vozes dos homens, juntas e afinadas. um homem pode ter um ar muito desgraçadinho, mas de traje tem logo outro aspecto - para melhor, claro. não falo das borgas, dos copos, das viagens. não me interessa a vida que eles levam antes ou depois de acturarem. o que gosto é de ver e ouvir e ainda alimento a fantasia de me fazerem uma serenata. estou a imaginar... o moço e uma tuna, todos alinhadinhos, a cantarem coisas bonitas...caramba!
no meu primeiro ano de faculdade, arrastei o moço para um festival de tunas na aula magna. das 22h às 3h, SÓ tunas (a maior parte masculinas, claro). muito muito giro.
mas a tuna, perdão estudantina, do coração é a da foto. não pelos elementos, que estão sempre a mudar, mas porque é a MINHA faculdade. ouvi-os pela primeira vez na benção do caloiro, quando entrei. a última vez foi na minha benção das fitas, anos depois. dancei e cantei, em cima de uma cadeira. seja o hino da estudantina, a versão muito hardcore da cinderela ou 'cheira bem, cheira a lisboa', cantado por eles soa muito melhor.
'e aqui estamos a trovar com fidalguia
vamos pró mundo pra honrar engenharia
somos estudantes do compasso e do papel
a estudantina académica do isel'

15.6.09

hot stuff


gosto de dias bonitos, com sol e céu azul. claro que gosto. mas este calor, apesar de não ser extremo, já me incomoda. porque nunca ando tão descoberta como se calhar devia, todos os poros do meu corpo se transformam em fontes de água salgada e é verem-me a abanar um papel, um lenço, as mãos... qualquer coisa que me refresque! já digo que são afrontamentos, tal é a intensidade da coisa! é desagradável estar a trabalhar, de bata e luvas, e sentir as gotinhas a escorrer pela cara! pareço um homem das obras, caramba! dias com mais de 25ºC deviam ser proibidos - pelo menos onde eu estivesse.

1.6.09

das crianças


"O reflexo era deformado. Por mais que tentasse escapar, aquele reflexo perseguia-a. Não havia forma de o despistar e isso fazia-a sorrir.
Uma cara de feições estranhas e engraçadas, olhos esbugalhados e boca minúscula, pele de um vermelho vivo que ninguém tem. Ninguém que ela conhecesse.
A Maria estava fascinada a olhar para a bola de Natal pendurada na árvore. A única que a mãe já tinha colocado naquela imensidão de verde, só para ver aqueles olhinhos ainda mais brilhantes, depois de muitos ‘Oh mamã, vá lá. Põe só uma!’.
Sentada no chão da sala, ninguém a conseguia distrair. Do alto dos seus 4 anos, não disse nada a ninguém, pegou na sua boneca preferida (a Matilde, uma amiga para todos os momentos) e ali ficou, talvez a sonhar, talvez só a fazer caretas para ver o seu reflexo na bola vermelha que a mãe disse que era dela. É a bola da Maria. Só da Maria. O irmão Pedro ainda é muito pequenino para ter uma bola só para ele mas o entusiasmo dela valia pelos dois.
‘Maria, ajudas a mãe a pôr o resto das bolas na árvore.’
‘Espera mamã, agora não posso’.
Quem olhasse para ela nesse momento, via uma Maria de ar doce mas tão pensativa que os seus 4 anos pareciam ter-se multiplicado. A Maria estava a criar uma memória daquelas boas e doces, que só as bolas de Natal, perdão, só a nossa bola de Natal é capaz de deixar na gavetinha do subconsciente.
A Maria tem olhos grandes e cabelo escuro. A Maria tem pele rosada e macia. A Maria é a mana crescida do Pedro, tem uma bola vermelha só dela e que a faz sonhar ainda mais.
Na sala, uma grande árvore muito verde apenas com a bola vermelha da mana crescida do Pedro.
De vez em quando, a mãe ouvia-a balbuciar qualquer coisa mas não conseguia perceber de que se tratava. Falava baixinho, como se estivesse a contar um segredo e soltava risinhos envergonhados mas carregados de ternura.

‘Então Maria, não queres ajudar a mãe?’
A Maria pôs as mãozinhas no chão, levantou-se e, puxando a camisola da mãe, disse ‘Mamã, quando o mano for maior a minha bola vermelha fica para ele. Vai ser a minha prenda de Natal para o mano. Estive a contar-lhe uma história e quando a der ao mano, a bolinha conta-lhe a ele.’."
dezembro '04